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Continuação do post: A importância do cristianismo na civilização humana. A catequese dos índios na História do Brasil. Parte I
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Antropofagia doméstica
Algumas tribos comiam por culto membros de sua família que faleciam, dando-lhes, como pensavam, um digno sepultamento em seus próprios estômagos.
Nas tribos que praticavam a antropofagia era freqüente encontrar esse canibalismo doméstico, mágico ou participativo.
Ele procede da crença de que, pela ingestão das carnes de um indivíduo, dá-se a mais íntima união possível com ele;
E por conseguinte, a participação em suas qualidades: coragem, vigor, destreza etc.
Daí os banquetes sagrados em que eram comidos, em festividades solenes, os personagens tidos como superiores:
O cacique, o pajé, os guerreiros ou heróis, freqüentemente pessoas da própria tribo.
Assim, a fim de se revestirem das qualidades desejadas de seus antepassados;
Surgiu em várias tribos o costume de ingerir-lhes, em rituais fúnebres, as cinzas com bebidas especiais.
Um mês após o funeral do familiar, desenterravam seu cadáver, já em adiantadíssimo estado de putrefação;
E o colocavam em uma grande panela sobre o fogo, até que lhe extinguissem as partes moles.
Os odores fétidos exalados durante o ato completavam aquele ritual macabro.
Quando os ossos ficavam carbonizados, eram triturados e reduzidos a pó.
Este, por sua vez, era colocado em grandes cuias de madeira cheias de bebidas.
Todo o grupo presente bebia então esta mistura até a última gota, crendo que as virtudes do morto haviam se transmitido a todas as pessoas que a ingeriam.
Fundação dos aldeamentos
Foi esse o sinistro panorama encontrado pelos primeiros missionários que para cá vieram;
Com a intenção de iniciar a catequese desses silvícolas e implantar a civilização cristã em nossa pátria.
Segundo estimativas geralmente aceitas, na época do Descobrimento, o Brasil contaria com cerca de cinco milhões de índios.
O grande mérito de Portugal foi transformar a catequese na base de sua obra colonizadora.
“Contudo, o melhor que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar”;
Escreveu Pero Vaz de Caminha a el-Rei de Portugal, Dom Manuel, narrando a descoberta da Terra de Vera Cruz.
Os maiores entraves para sua conversão foram:
A antropofagia, a poligamia, as bebedeiras, o nomadismo intermitente, as guerras entre tribos vizinhas e a inconstância nos propósitos.
Se os missionários se contentassem tão-só em percorrer as aldeias dos nativos, além de todos os tipos de riscos que enfrentariam, o resultado seria precário.
O que eles ensinassem em um mês, por falta de exemplo ou de exercício, perderiam no outro.
Com o nomadismo intermitente dos índios;
Ao voltarem os missionários a uma tribo que haviam catequizado pouco antes, em vez dela encontrariam cinzas.
Era necessário o mais depressa possível fixar os indígenas ao solo, afastando os já batizados da influência dos que permaneciam pagãos.
De outra maneira, não seriam extirpadas as indecisões nem a volta aos costumes antigos.
A catequese dos índios seria uma quimera enquanto não se organizassem os aldeamentos, com regime próprio e autoridade.
As primeiras tentativas de formação das aldeias indígenas ocorreram na Bahia.
Elas foram a modalidade mais eficaz e original de colonização aplicada no Brasil, primeira semente das célebres reduções jesuítas.
Para ser eficaz e completa, a atividade dos missionários precisava ser apoiada pelas autoridades públicas.
O terceiro Governador Geral do Brasil, Mem de Sá (1558–1572);
Concedeu todo apoio moral e material aos primeiros missionários jesuítas, comandados pelo padre Manoel da Nóbrega.
Sob a influência da milícia de Santo Inácio, os Governadores-Gerais deram a tais aldeamentos regalias quase municipais.
Com efeito, tinham eles uma legislação especial que regulamentava:
Os bens dos índios, sua separação em relação aos portugueses, o comércio entre eles e o regime de trabalho, baseado nas instituições portuguesas.
Começou desse modo a grande obra de catequese junto aos silvícolas brasileiros.
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Fonte: ipco.org.br
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