.
Associadas à obra redentora do Salvador, Maria devia partilhar de suas dores,
Já que foi pelo sofrimento e pela humilhação que Jesus, em obediência à vontade do Pai, quis salvar e santificar os membros pecadores de seu corpo místico.
Assim, pois, como a vida de Jesus foi um longo martírio, também a vida de Maria foi, do berço ao túmulo;
E sobretudo depois da profecia do santo ancião Simeão, uma longa série de provações e de dores;
Tanto assim que a Igreja celebra também a Compaixão da Virgem, além da Paixão
do Salvador.
Nada melhor para nos fazer compreender esta grande verdade, a saber;
Que aqueles que desejam colaborar na salvação das almas devem carregar com generosidade as suas cruzes e unir seus sofrimentos aos do divino Redentor;
Para expiar não somente as suas faltas pessoais, mas também as de seus irmãos.
Pois a Virgem imaculada, que jamais incorreu na menor falta, não sofreu por seus próprios pecados, mas pelos de seus filhos.
Nós, que somos pecadores, temos de reparar nossas próprias faltas, assim como as de nossos irmãos:
Mais uma razão para aceitar ainda mais generosamente as cruzes que Deus nos envia;
E mesmo para nos antecipar àquelas que ele nos prepara, para tornar nosso apostolado mais fecundo.
Diferenças entre a Paixão de Jesus e a Compaixão de Maria
Importa inteiramente notar a diferença essencial entra a Paixão do Salvador e a Compaixão
de Maria.
No plano divino, a paixão de Nosso Senhor era necessária à nossa Salvação:
Desejando Deus uma reparação do pecado igual à ofensa, e sendo a ofensa feita a Deus moralmente infinita;
Era precisa uma reparação de um valor moral infinito, que somente uma pessoa divina encarnada poderia oferecer em nome da humanidade culpada.
Essa pessoa divina escolhida por Deus foi o Verbo encarnado;
Que foi constituído Senhor e cabeça da humanidade inteira, podendo assim merecer em favor de todos os homens.
Ao mesmo tempo, foi decretado que nossa salvação seria conquistada pelo sacrifício sangrento do Calvário.
Assim, a dolorosa paixão de Jesus era tão necessária, segundo os desígnios providenciais, que sem ela não nos poderíamos salvar.
Não é esse o caso da Compaixão de Maria:
Sendo mãe do Salvador, ela foi associada à obra redentora de seu Filho, mas de uma forma secundária e dependente da obra principal desse divino Filho.
Desde o momento da encarnação, Deus, que trata com maior respeito a futura Mãe do Verbo;
Pede seu consentimento para a obra da Encarnação e da Redenção;
E é somente depois que humilde virgem dá livremente seu fiat que o Verbo encarna em seu seio virginal e associa sua mãe à obra de nossa salvação.
Era muito conveniente que assim fosse: era dela que vinha esse corpo que ele iria imolar, esse sangue que ele iria derramar por nós;
Era justo que ela tivesse um papel importante em nossa santificação, mas era um papel secundário;
Já que somente Jesus Cristo fora constituído chefe espiritual da raça humana, e que somente ele podia, pela união hipostática, conferir um valor infinito às suas ações;
E era também um papel subordinado, já que Maria somente poderia merecer e satisfazer em virtude de sua estreita união com seu Filho.
Mas, se o mérito de Maria é dependente daquele de seu Filho e é um mérito de conformidade (de congruência);
Já que ela não foi constituída chefe da raça humana, ainda assim é um mérito bem superior ao dos outros membros do corpo místico.
Como observou o Santo Papa Pio X;
“Para a obra de salvação de todos nós, Cristo uniu-se de tal forma à sua mãe;
Que ela nos merece de conformidade o que ele nos merece de justiça, promeret nobis de côngruo quae Christus de condigno”.
“Em sua qualidade de mãe do Redentor, diz o Pe. R. Bernard;
Ela adquire uma certa participação, embora imperfeita, no papel de chefe da humanidade que pertence propriamente a seu Filho.
Ela tem todas as graças relacionadas à sua missão”…
Mesmo na ordem da Redenção, ela não é uma pessoa como as outras e possui uma existência à parte…
Sendo a nova Eva totalmente voltada para a obra do novo Adão;
Ela realiza atos que interessam à raça humana como um todo e que são meritórios para a inumerável família do reino de Deus feito homem.
Ela contribui para nos salvar na mesma proporção em que nossa primeira mãe contribuiu para nos perder…
Ela não se limita a nos aplicar, segundo os seus méritos, os frutos da Redenção: ela é Aquela por quem nos vieram a Encarnação e a Redenção.
E é o Papa Bento XV quem afirma que podemos com justiça dizer que ela, em união com Cristo, redimiu o gênero humano.
Eis porque ela é chamada co-redentora, mas, como já dissemos, em um sentido restrito e secundário.
Podemos acrescentar que os seus sofrimentos foram, no fundo, os mesmos de Jesus;
Seu coração tão amoroso e tão compassivo sentiu vivamente todas as torturas físicas e morais infligidas a seu Filho;
E cada uma delas cravava mais profundamente em sua alma a espada de dor.
Se Deus quis associar assim a mãe e o Filho na obra da redenção;
Foi para nos mostrar que todos os membros do corpo místico devem aceitar sofrer com seu Senhor por sua salvação e pela salvação de seus irmãos.
Ó Virgem compassiva, ajudai-nos, pois, a nos manter perto de Vós ao pé da cruz para suportar, sem queixas, as dores que aprouver à divina bondade enviar-nos para nos associar à obra redentora.
.
Fonte: retirado do livro “A Divinização do Sofrimento” do Rev. Pe. Adolphe Tanquerey.
.
.
* * *
.
.
.
.
.
,
.
.