Continuação do post: “A pregação que cativou as multidões” – conheça o poder das palavras de São Francisco de Assis (Parte II)
.
A missão que realizava com tantos frutos em países católicos não bastava para satisfazer o zelo do nosso Santo.
O seu espírito cavalheiresco ambicionava aventuras mais gloriosas: desejava evangelizar os infiéis. Esperava, com esse perigoso ministério, coroar o seu apostolado pelo martírio.
Partiu, pois, para o Oriente.
Durante o ano de 1213, embarcou em Ancona; mas uma tempestade atirou os navios para as costas da Ilíria.
Naquela má estação, a navegação tornava-se impossível. Francisco viu-se forçado a retornar à Itália.
Algum tempo depois, encontrava-se em Espanha; contava passar de lá a Marrocos e realizar por fim o seu sonho. A doença reteve-o e obrigou-o a voltar a Assis.
Estes contratempos sucessivos não o desanimaram. Em 1219, renovou a tentativa e conseguiu, desta vez, desembarcar no Egito.
Foi encontrar o exército dos cruzados sob os muros de Damieta; apercebeu-se depressa das rivalidades mesquinhas que os dividiam.
Procurou remediar os males e deu modestamente alguns conselhos que não foram bem recebidos.
Aqueles rudes guerreiros não compreenderam que se encontravam diante de um Santo; não o tomaram a sério.
O seu projeto de ir falar com o Sultão pareceu-lhes quimérico; disseram-lhe que seria assassinado antes de alcançar o objetivo.
Muito longe de assustar o intrépido missionário, a perspectiva do martírio atraia-o; lançou-se, pois, a caminho da meta tão desejada.
Na presença do Sultão
Acompanhado por um irmão, Francisco dirigiu-se ao acampamento dos infiéis; uma patrulha deteve-os.
Os muçulmanos maltrataram os religiosos e acorrentaram-nos.
O Santo não temia os tormentos nem a morte; mas antes de derramar o seu sangue queria, a qualquer preço, pregar a fé ao soberano ismaelita.
Empregou as poucas palavras árabes que conhecia e gritou: “Soldan, Soldan”, dizem os seus biógrafos.
O seu pensamento foi compreendido e levaram-no à presença do Sultão.
Abordou sem demora a questão religiosa.
Era por amor da sua alma, disse ele ao príncipe, que tinha vindo suplicar-lhe que renunciasse a Maomé.
Ofereceu-se para lhe explicar a doutrina católica: pediu para discutir na presença do Sultão com os marabus mais conceituados.
A sua ousadia, o seu ar de lealdade, a sua cortesia agradaram ao soberano.
– “Consultarei os meus sacerdotes”, respondeu ele, e despediu-o.
O Santo teve, pouco depois, uma segunda audiência.
O Sultão tinha mandado convocar os teólogos do Islão; apareceu rodeado por uma numerosa Corte.
Francisco falou.
“Fazei acender uma grande fogueira – disse.
Entramos nela ao mesmo tempo, os vossos sacerdotes e eu.
Deus preservará das chamas os ministros da verdadeira religião”.
A proposta do missionário desconcertou os assistentes.
Os marabus não manifestaram qualquer desejo de tentar a prova do fogo.
Um Imã, que se encontrava ali, afastou-se prudentemente.
“Entrarei, pois, sozinho na fogueira -, declarou Francisco.
Se morrer, atribui isso aos meus pecados; mas se, pelo contrário, não sofrer qualquer dano, reconhecei este sinal a verdade”.
Havia nas suas palavras uma tal expressão de sinceridade, que o Sultão não escondeu a admiração.
Não aceitou o oferecimento de São Francisco: não queria converter-se; mas recomendou-se às suas orações e cumulou-o de presentes.
Francisco declinou as ofertas do príncipe e retirou-se.
Quando chegou ao acampamento dos católicos, foi melhor recebido que antes.
Os cruzados maravilhados com tanta coragem, ouviram docilmente as pregações.
Francisco recrutou entre as suas fileiras diversas vocações para a sua Ordem.
Depois, embarcou para a Itália.
Não conseguiria arrebatar a dupla vitória por que tanto aspirava: não convertera o Sultão; não derramara o sangue pela fé.
Deus, que queria fazer dele um crucificado vivo, reservava-o para o sublime e doloroso martírio do Amor.
.
Fonte: Livro “São Francisco de Assis” do Rev. Pe. Thomas de Saint-Laurent.
.
.
* * *
.
.
.
.
,
.