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Refere São Lucas que “quando Jesus chegou perto de Jerusalém, ao ver a cidade chorou sobre ela e disse:
Ah! Se ao menos neste dia, que agora te é dado, conhecestes ainda tu o que pode trazer-te a paz! Mas por hora tudo está encoberto a teus olhos.
Porque virão dias para ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te apertarão por todos os lados.
E te derrubarão por terra a ti e a teus filhos, e não deixaram em ti pedra sobre pedra, porquanto não conhecestes o tempo de tua visitação”.
Sob a figura da Jerusalém material, os Santos Padres veem a alma do pecador obstinado ou ainda a alma do que é tíbio.
Estas almas descuidadas, semelhantes aos desgraçados habitantes daquela cidade infeliz, desprezam o tempo da visitação do Senhor, e se obstinam em não quererem obedecer à voz de Deus;
Que por meio dos superiores, dos diretores espirituais ou das inspirações interiores os excita a emendar a sua vida desregrada.
Os desgraçados! O Redentor tem muita razão em derramar por causa deles lágrimas copiosas, porque mais cedo ou mais tarde lhes tocará a mesma sorte da ímpia cidade de Jerusalém:
“Os teus inimigos te cercarão de trincheiras”.
Eles adiando a sua conversão de dia para dia, e afinal, na hora da morte, ver-se-ão cercados pelos seus inimigos, isto é;
Pelos remorsos da consciência, pelos assaltos dos demônios e pelos receios da condenação eterna, de tal forma que a sua ruína será quase certa e irreparável.
Infeliz, pois, de quem se obstina no pecado ou na tibieza.
“Começarei a vomitar-te de minha boca”
Meu irmão, a fim de que na hora da morte não te suceda tamanha desgraça;
Reconhece agora o tempo da visitação amorosa do Senhor, e obedece de pronto ao seu convite.
Quem sabe se a leitura desta meditação não é para ti a última?…
Quero supor que estejas na graça de Deus;
Porém, olha que não sejas do número daqueles tíbios, que pelas suas negligências habituais causam a Deus tão grande náusea que começa a vomitá-los de sua boca.
“Já que és tíbio, e não frio nem quente, começarei a vomitar-te de minha boca”.
Meu amabilíssimo Jesus, não quero esperar até a hora da morte, para recorrer a Vós, meu Bem infinito. Quero minha alma junto a Ti.
Reconheço que pela minha tibieza mereci ser abandonado de Vós, privado de vossa luz e desamparado de vossa graça.
Mas ao ver que hoje me visitais tão amorosamente, mostrando-me as lágrimas que derramastes sobre a minha ruína eterna;
Ao ouvir também a vossa voz, que por meio desta meditação de novo me convida ao vosso amor, não quero desanimar, e volto arrependido a lançar-me em vossos braços paternais.
Perdoai-me, ó Senhor, já que abomino e detesto, acima de todos os males, as ofensas, quer grandes quer pequenas, que Vos fiz.
Antes eu tivesse morrido mil vezes que cometê-las.
Proponho para o futuro amar-vos sempre de todo o coração e cumprir em todas as coisas a vossa santíssima vontade.
Dai-me a santa perseverança – “Rogo-Vos, ó Senhor, que os ouvidos de vossa misericórdia estejam sempre abertos às minhas preces;
E, para que me possais conceder sempre o que Vos peço, fazei que eu só peça o que for do vosso agrado”.
Suplico-Vos esta graça pelos vossos merecimentos e pela intercessão de minha querida Mãe, Maria.
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Fonte: “Meditações para todos os dias e festas do ano” de Santo Afonso de Ligório.
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