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“A segunda coisa, em que principalmente consiste a doçura, é na paciência em sofrer os desprezos.
Dizia S. Francisco de Assis que muitas pessoas fazem consistir a sua perfeição em recitar muitas orações, ou fazer muitas mortificações corporais, ao passo que não pode suportar uma
palavra injuriosa.
Não compreendem elas, ajuntava o santo, quanto lhes é mais proveitoso suportar as afrontas. Maior mérito haverá em receber em paz uma injúria, que em jejuar dez dias a pão e água.
Segundo S. Bernardo, há três graus de virtude a que deve aspirar quem quer santificar-se: o primeiro é não querer dominar sobre os outros; o segundo querer estar sujeito a todos; o terceiro sofrer com paciência as injúrias.
Vereis, por exemplo, que se concede aos outros o que a vós se recusa; que o que os outros dizem é escutado; e o que vós dizeis escarnecido;
Que os outros são louvados, escolhidos para empregos honrosos e negócios importantes, e que de vós se não faz caso.
Tudo quanto fazeis vos atrai censuras e remoques; então, diz S. Doroteu, sereis verdadeiramente humildes, se aceitardes em paz todas estas humilhações;
E se recomendardes a Deus, como vossos maiores benfeitores, os que assim vos tratam, curando o vosso orgulho, a mais perigosa moléstia, capaz de vos dar a morte.”
“Esforce-se por ser humilde do coração e ter paciência.
Muitos há que são humildes de palavras, mas não do coração; dizem que são os maiores pecadores do mundo, que merecem mil infernos; apesar disso, querem ser preferidos, estimados e louvados.
Quando ninguém os aplaude, a si próprios se louvam; ambicionam os empregos mais altos, e não podem sofrer uma palavra de desprezo.
Não procedem assim os humildes de coração: nunca falam dos seus talentos, da sua nobreza, das suas riquezas, nem de coisa alguma que os distinga.
Amará pois os empregos e serviços mais humildes e obscuros.
Receberá as afrontas sem se perturbar, e até interiormente se comprazerá nelas, por se tornar assim semelhante a Jesus Cristo, que foi saturado de opróbrios.
Será prestável a todos, e cuidará em especial de fazer bem a quem lhe tiver feito mal, pelo menos recomendando-o a Deus; é a vingança dos santos.”
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Fonte: “A Selva e Regras Espirituais para um Padre que Aspire à Perfeição” de Santo Afonso Maria de Ligório.
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