“Este é o dia que fez o Senhor; regozijemo-nos e alegremo-nos nele”
(Salmos 117, 24)
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O grande mistério que em todo o tempo pascal,
E especialmente no dia de hoje, deve ocupar as almas amantes de Deus, e enchê-las de dulcíssima esperança, é a felicidade de Jesus ressuscitado.
Já meditamos que Jesus, no tempo de sua Paixão, perdeu inteiramente as quatro espécies de bens que o homem pode possuir na terra.
Perdeu os vestidos até à extrema nudez;Perdeu a reputação pelos desprezos mais abomináveis;
Perdeu a florescente saúde pelos maus tratos;
Perdeu finalmente a vida preciosíssima pela morte mais atroz que se pode imaginar.
Agora, porém, saindo vivo do fundo do sepulcro, recebe com lucro abundantíssimo tudo quanto perdeu.
O que era pobre, ei-lo feito riquíssimo e senhor de toda a terra.
O que a si próprio se chamava verme e opróbrio dos homens, ei-lo coroado de glória, assentado à direita do Pai.
O que pouco antes era o Homem das dores e provado nos sofrimentos, ei-lo dotado de nova força e de uma vida imortal e impassível.
Finalmente o que tinha sido morto do modo mais horrível, ei-lo ressuscitado pela sua própria virtude;
Dotado de sutileza, de agilidade, de clareza, feito as primícias de todos os que dormem com a esperança de ressuscitarem também um dia à imitação de Cristo.
Detenhamo-nos aqui para tributar a nosso Chefe divino as devidas homenagens.
Façamos um ato de fé viva na sua ressurreição, e cheguemo-nos a ele para beijarmos em espírito os sinais das cinco chagas glorificadas.
Alegremo-nos com ele, por ter saído do sepulcro, vencedor da morte e do inferno, e digamos com todos os santos:
“O Cordeiro que foi imolado por nós, é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a fortaleza, a honra, a glória e a bênção”.
“Sempre unido convosco, e louvar-Vos e amar-Vos eternamente”
Regozijemo-nos com Jesus Cristo;
Mas regozijemo-nos também por nós mesmos, porquanto a sua ressurreição é o penhor e a norma da nossa, se ao menos, como diz São Paulo, morrermos primeiro interiormente ao afeto das coisas terrestres:
“Se com ele também morrermos, com ele também viveremos”.
Ó doce esperança! “Virá a hora em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus”;
E então pelo poder divino retomaremos o mesmo corpo que agora temos, mas formoso e resplandecente como o sol.
Nós também ressuscitaremos!
A esperança da futura ressurreição é o consolava o santo Jó no tempo de sua provação.
“Eu sei”, disse ele, e nós, digamos o mesmo no meio das cruzes e tribulações da vida presente:
“Eu sei que meu Redentor vive, e que no derradeiro dia ressurgirei da terra;
E serei novamente revestido da minha pele, e na minha própria carne verei a meu Deus… esta minha esperança está depositada no meu peito”.
Meu amabilíssimo Jesus, graças Vos dou que pela vossa adquiristes para mim o direito a posse de tão grande bem, e hoje pela ressurreição avivais a minha esperança.
Sim, espero ressurgir no último dia, glorioso como Vós, não tanto por meu próprio interesse;
Como para estar para sempre unido convosco, e louvar-Vos e amar-Vos eternamente.
É verdade que pelo passado Vos ofendi com os meus pecados;
Mas agora arrependo-me de todo o coração e pela Vossa ressurreição peço-Vos que me livreis do perigo de recair na vossa desgraça:
“Pela vossa santa ressurreição, livrai-me, Senhor”.
“E Vós, Eterno Pai, que no dia presente nos abristes a entrada da eternidade bem aventurada, pelo triunfo que o vosso Unigênito alcançou sobre a morte:
Aumentai com o vosso auxílio os desejos que a vossa inspiração nos instila”.
Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo e de Maria Santíssima.
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Fonte: retirado do livro “Meditações para todos os dias e festas do ano” de Santo Afonso de Ligório.
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