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Sabendo Jesus que era chegada a hora de sua morte,
Em que devia partir deste mundo, como até então tinha amado os homens com amor excessivo;
Quis naquelas horas dar-lhes as últimas e maiores demonstrações de amor.
Vede-o, como sentado à mesa e todo inflamado de amor, se volta para seus discípulos e diz:
“Tenho desejado ansiosamente comer convosco está Páscoa”.
Discípulos meus (e o mesmo disse Jesus então a todos nós), sabei que em toda a minha vida não tive outro desejo senão o de celebrar convosco esta última ceia;
Porquanto logo em seguida irei sacrificar-me pela vossa salvação.
Portanto, ó meu Jesus, tendes tão vivo desejo de dar a vida por nós, as vossas miseráveis criaturas?
Ah! Esse vosso desejo, como não deve excitar em nossos corações o desejo de padecer e morrer por vosso amor;
Visto que por nosso amor desejais tão ansiosamente padecer e morrer!
Ó amado Redentor, fazei-nos saber o que quereis de nós; queremos agradar-Vos em tudo.
Queremos dar-Vos gosto para respondermos ao menos um pouco ao grande amor que nos tendes.
Entretanto, é posto na mesa o cordeiro pascal, figura de nosso Salvador mesmo.
Assim como aquele cordeiro foi consumido na última ceia, assim o mundo veria no dia seguinte o Cordeiro divino, Jesus Cristo, consumido de dores sobre o altar da cruz.
“Tendo-se ele (João) reclinado sobre o peito de Jesus”.
Ó feliz de vós, João, discípulo predileto, que reclinando a cabeça sobre o peito de Jesus;
Compreendestes a ternura do Coração do nosso amante Redentor para com as almas que o amam!
– Ah! Meu dulcíssimo Senhor, que repetidas vezes me favorecestes com tão grande graça!
Sim; pois que eu também compreendi a ternura do vosso afeto para comigo, cada vez que me consolastes com luzes celestes e doçuras espirituais.
Mas, não obstante isso, Vos fui infiel!
Suplico-Vos que não me deixeis mais viver tão ingrato para com vossa bondade!
Quero ser todo vosso: aceitai-me e socorrei-me.
Nem os Anjos tiveram esse privilégio…
“Depois (Jesus) deita água numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos”.
Minha alma, contempla a teu Jesus, que se levanta da mesa, dispõe suas vestiduras e, tomando uma toalha branca, se cinge.
Em seguida, deitando água numa bacia, de joelhos diante do seus discípulos, começa a lavar-lhes os pés.
Eis, pois, que o Rei do mundo, o Unigênito de Deus se humilha até lavar os pés a suas criaturas!
Ó anjos, que dizeis a isso?
Já teria sido um grande favor, se Jesus Cristo lhes houvera permitido lavarem-lhe com lágrimas os pés divinos, assim como permitiu a Madalena.
Jesus, porém, quis prostrar-se aos pés dos seus servos;
A fim de nos deixar no fim da sua vida este grande exemplo de humildade, e mais esta grande prova do amor que tem aos homens.
E nós, ó Senhor, seremos sempre tão orgulhosos, que não sofremos uma palavra de desprezo;
Uma pequena falta de atenção, sem que logo fiquemos ressentidos, nos venha o pensamento de vingança?
Todavia, pelos nosso pecados temos merecido sermos calcados aos pés dos demônios do inferno.
Ah, meu Jesus, reconheço que é um grande castigo de meus pecados, o terem-me feito soberbo, depois de me terem feito ingrato.
Para o futuro não será assim; pois que o vosso exemplo me fez as humilhações sumamente amáveis.
Prometo que de hoje em diante suportarei por vosso amor qualquer injúria e afronta que me seja feita; mais, desejo e peço ser humilhado convosco.
– Mas, ó Senhor, para que servem estes meus propósitos sem o vosso auxílio de executá-los?
Já que me quereis salvo, ó meu Jesus desprezado, ajudai-me a suportar em paz todos os desprezos em que minha vida tenha de receber.
Concedei-me esta graça pelo mérito dos opróbrios que sofrestes, e pelas dores de vossa e minha querida Mãe Maria.
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Fonte: retirado do livro “Meditações para todos os dias do ano” de Santo Afonso de Ligório.
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