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Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Vós sois o sal da terra.
Ora, se o sal se tornar insosso, com que salgaremos?
Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens.
Vós sois a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte.
Ninguém acende uma lâmpada e a coloca debaixo de uma vasilha, mas sim num candeeiro, onde brilha para todos que estão na casa.
Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus.
Nosso Senhor se dirige, no Evangelho, aos seus discípulos: os cristãos.
Há quem tente interpretar essa passagem de forma inclusiva, albergando nas expressões “sal da terra” e “luz do mundo” todos os seres humanos;
Mas não é esse, definitivamente, o sentido original do discurso de Cristo.
A boa-nova do Salvador não é a de um “humanismo naturalista”;
Como vemos prevalecer em nossos tempos, senão a do primado da graça divina.
Antes que a luz dos cristãos (lumen christianorum) brilhe diante dos homens, de fato;
É a luz de Cristo (lumen Christi) que os deve alumiar;
Pois unicamente o Verbo de Deus encarnado é, na expressão do prólogo de São João;
“A verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem” (Jo 1, 9).
Ele é como o astro solar, pois, enquanto nós, à semelhança da lua, apenas refletimos o que recebemos.
Muito parecido com isso é um pensamento do bem-aventurado Antônio Rosmini;
Citado recentemente pelo Cardeal Carlo Caffarra, durante uma entrevista ao jornal italiano Il Foglio:
“Há uma luz que está no homem e há uma luz que é o homem.
A luz que está no homem é a lei da Verdade e a graça.
A luz que é o homem é a reta consciência;
Porque o homem se torna luz quando participa da luz da lei da Verdade mediante a sua consciência conformada àquela luz.”
Essas palavras são esclarecedoras porque nos ajudam a colocar a tão invocada e defendida consciência em seu devido lugar.
Tomem-se por exemplo os nazistas, que tentaram safar-se dos crimes que cometeram durante a Segunda Guerra Mundial;
Invocando o direito inviolável que todo ser humano possui de seguir o dever ditado pela sua consciência.
Foi o que eles alegaram em Nuremberg, na Alemanha, durante os famosos processos que condenaram a maioria deles à pena capital ou à prisão perpétua.
E então, o que responder diante disso?
Quais são, afinal de contas, os limites da liberdade de consciência?
Ou ela pode ser invocada tranquilamente para legitimar atrocidades?
A resposta está em algo maior que a consciência humana:
Com o direito de seguir a própria consciência, também caminha junto o dever de formá-la devidamente.
A culpa dos nazistas em Nuremberg foi, portanto;
Não a de não ter seguido a sua consciência, mas sim a de não a ter formado devidamente;
De ter permitido que fossem deformadas as suas noções morais.
Assim, se é verdade que, por um lado, Cristo é a luz que “ilumina todo homem”;
Por outro, cada homem é livre para aceitar ou não ser iluminado por essa luz.
Bom cristão não é simplesmente quem segue a sua consciência, portanto, mas quem ouve a voz de Cristo e põe em prática aquilo que Ele lhe dita.
É essa a condição para que sejamos “luz do mundo”.
Quem não enxerga, por exemplo, a luz que irradia da vida de um São Maximiliano Maria Kolbe;
Um homem que verdadeiramente se entregou à evangelização, viajou até o Oriente, pregou o Evangelho;
Usou todo o seu empenho e força para levar as pessoas à Imaculada;
E terminou num campo de concentração nazista, coroando sua própria vida de boas obras com um martírio para salvar um pai de família?
A exemplo de seus carrascos, também este homem estava a seguir a sua consciência, mas que diferença abissal entre os dois!
Aqueles odiando e praticando as “obras infrutíferas das trevas” (Ef 5, 11);
Este, ao contrário, amando e dando frutos para o Reino dos céus!
Neste momento em que o Senhor nos chama a brilharmos como astros luminosos diante desta geração má e perversa;
Coloquemos em ordem o nosso coração.
Sigamos a nossa consciência, sim, mas atendo-nos, em primeiro lugar, à luz da Verdade.
Procuremos ter uma vida de oração, sim, mas a partir dos sacramentos da Igreja;
Que nos dão a graça divina, se porventura a tivermos perdido;
E no-la aumentam, se estivermos fracos e trêmulos na fé.
Não seremos santos sozinhos, não seremos “luz” para ninguém se antes não formos iluminados pelo Verbo eterno de Deus.
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Fonte: padrepauloricardo.org
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