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Como sempre, há dois São Luís. A piedade sentimental formou uma imagem de São Luís muito diferente da imagem verdadeira.
Interessante, por exemplo, quando se vêem certas imagens de São Pio X e se as compara com a fotografia de São Pio X.
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A fotografia dá a impressão de um homem agigantado no físico, forte na alma, rei espiritual consciente de sua dignidade e um espírito sobrenatural, uma coisa magnífica.
A imagem é de um vovôzinho velhinho, alquebrado, com uma carinha de quem pede desculpa por ser papa, uma certa vergonha por não ser padre-operário.
Há um Pio X de legenda da piedade sentimental, e um São Pio X verdadeiro, histórico, herói do anti-modernismo, etc.
Com São Luís acontece a mesma coisa.
Em primeiro lugar, há uma primeira imagem, que é a eterna história de São Luís, sentado debaixo do carvalho de Vincennes, distribuindo justiça.
De maneira que se tem a singular impressão de um rei que morava debaixo das árvores;
Que podendo dispor de um mundo de castelos;
Tendo que sustentar a pompa e a representação do primeiro reino da Cristandade, tendo que gerir todo um Estado, fazer guerras etc.;
Não achava nada melhor do que puxar uma cadeirinha debaixo de uma árvore e ficar distribuindo justiça, atendendo.
Naturalmente absolvendo todo mundo, rodeado de uma réplica plebéia dele mesmo;
Tratando de coisas que não supõem argúcia, engenho, não supõem força de vontade: todo mundo imbecilizado em volta.
O rei abóbora (amolecido), com um monte de aboborinhas em volta, aboborando embaixo de um carvalho. Essa seria a imagem “oficial” de São Luís.
Essa imagem é explorada para se opor aos Reis que vieram depois.
Então, Luís XIV no fastígio de sua glória, castelo de Versailles, quarto de dormir pomposo etc., isso seria o rei errado.
O rei simples é o rei marmiteiro, que julgava debaixo do carvalho de Vincennes.
É o momento de dissociarmos essas imagens e nos lembrarmos de alguns traços da vida de São Luís.
Entre outros traços, convém lembrar São Luis como estadista, São Luis como guerreiro, São Luís como homem de piedade.
Primeiro, devemos considerar um aspecto importante de sua vida:
São Luis como rei da monarquia orgânica.
Ele não foi, nem um pouco, daquele tipo de rei fait néant (que não faz nada) que abandonava todas as prerrogativas reais nas mãos dos vassalos.
Pelo contrário, ele era verdadeiramente cioso do poder real;
E se os vassalos procuraram enfrentar ou diminuir o poder real, ele várias vezes resistiu de frente e manteve as prerrogativas reais.
Por outro lado, ele era tão cioso da autonomia dos senhores feudais, dos respectivos feudos, que dele se conta, entre outros, esse pequeno fato:
Estava rezando na Igreja e, num botequim perto da igreja, começaram a fazer desordem, perturbando sua oração.
Então, perguntaram-lhe porque não dava ordens para que aqueles botequineiros saíssem e acabassem com a desordem.
A resposta dele:
Mande procurar quem é o senhor desse feudo e lhe diga que reprima esse abuso.
Seria tão natural uma ordem direta do rei de França;
Mas vejam a preocupação de observar em seus graus os condutos feudais;
E de respeitar as várias hierarquias que estavam debaixo dele;
Para o bom amor dessa organicidade da estrutura feudal, que ele respeitava escrupulosamente, dentro dos limites em que devia ser respeitada.
O que é profundamente diferente de Luís XIV, de Luís XIII, de Henrique IV, para não falar senão deles, pois poderíamos ir até Luís XI;
Destruidores sistemáticos da hierarquia feudal.
Por outro lado, foi também São Luís que cuidou das corporações, e mandou fazer o assento dos regulamentos dos costumes das corporações;
Dando estrutura e estabilidade às organizações plebéias, que constituíam as unidades autônomas dentro da plebe;
Sendo um alentador de toda forma de autonomia em seu reino, dentro do qual ele era o centro de gravidade enérgico e vivo.
São Luís defendeu as prerrogativas da autoridade real, não só contra insurretos de toda espécie mas até contra a Santa Sé.
Está em seu processo de canonização, que foi amplamente estudado;
Que a Santa Sé, tendo querido fazer ingerências de caráter político imoderadas na França;
São Luís resistiu de frente e levou as coisas longe, até obter que essas ingerências cessassem.
São Luís cruzado:
São Luís, ao ser citado como cruzado, faz parte da legenda, ele morrendo de peste em Tunis.
Então, é o rei doente, deitado num colchão como os pobres, assistidos pela Conferência de São Vicente de Paula;
Todo mundo tem pena, enterra-se com choramingos e derrotado.
A realidade histórica tem algo disso, mas não só isso.
Devemos lembrar São Luís desembarcando, como descreve Joinville;
Todo armado, magnífico, o homem mais alto de seu exército, um capacete luzidio, com armadura de ouro;
Quando sua barca tocou no Egito, ele tinha tal sanha de combater, que pulou armado dentro do mar;
E à frente de seus homens pulou em terra e começou a combater.
Depois, todos os feitos que realizou nas cruzadas, que o sagraram como um guerreiro perfeito.
Isso deveríamos pôr ao lado do guerreiro ferido, doente, do guerreiro padecente que imita a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, e com isso se torna imensamente venerável.
É juntando todos esses aspectos que temos uma imagem adequada do rei São Luís.
Essa imagem nos deve levantar a pergunta:
Um rei nessas condições é verdadeiramente amado pelo povo?
O povo francês compreendia o que era esse rei?
Há uma prova que é verdadeiramente tocante.
As moedas da Idade Média são, em geral, caras, mas as mais baratas dentre essas moedas são as do rei São Luís.
Porque quando ele morreu, o povo começou a guardar suas moedas, porque tinham a efígie dele, como lembrança e como medalha.
Por causa disso, conservaram-se em incontáveis lares franceses;
De maneira que são as mais baratas das moedas medievais, provando o respeito e veneração dos franceses pelo seu rei.
Isto indica bem que a virtude quando bem praticada, quando vivida de um modo autêntico;
Só pode produzir no povo uma reação boa e se não produz uma reação boa, é porque o povo não presta.
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Fonte: pliniocorreadeoliveira.info
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