Em setembro de 2023, a Igreja Católica celebra um evento inédito: a beatificação de toda uma família ao mesmo tempo, incluindo um bebê que ainda estava na barriga da mãe.
Os membros da família Ulma foram massacrados por nazistas e seus apoiadores, em março de 1944. Todos foram fuzilados por soldados, que encontraram duas famílias judaicas escondidas no sótão da casa dos Ulma. Os judeus escondidos pertenciam às famílias Goldman e Szall.
Contudo, eles foram denunciados por um membro da chamada “Polícia Azul“, única força armada polonesa autorizada na época. Em 1995, o Instituto Yad Vashem, de Israel, atribuiu ao casal o título de “Justos entre as Nações”.
O processo católico começou há 20 anos, em 2003. Na época, o Vaticano confirmou se tratar de “um acontecimento sem precedentes no processo moderno de canonização”. A beatificação é o último passo antes da santidade.
A beatificação de uma criança não nascida
Quando foram assassinados, os pais Jozef e Wiktoria Ulma tinham apenas 44 e 32 anos, respectivamente.

Em nove anos de casamento, o casal teve seis filhos: Stasia (8 anos), Basia (7 anos), Władzio (6 anos), Franuś (4 anos), Antoś (3 anos) e Marysia (2 anos). Havia ainda um sétimo filho que Wiktoria deu à luz no momento de sua morte, cujo nome e sexo não são conhecidos.
Este caso específico de gestação deu origem a muitas perguntas. Alguns meios de comunicação se referiram à beatificação de uma criança in utero ou não nascida.
Na realidade, na exumação do corpo de Wiktoria foi identificada a cabeça da criança, que havia saído do útero da mãe. Dessa forma, considera-se que ela nasceu e viveu, mesmo que por uma vida muito curta e em um momento trágico.
Em 5 de setembro, o Dicastério para as Causas dos Santos reagiu emitindo uma nota afirmando que Wiktoria havia de fato dado à luz essa criança, que havia “recebido o batismo de sangue”.
O padre carmelita polonês Tadeuz Praskiewicz esclareceu a posição desse dicastério. Segundo ele, podemos afirmar que os pais da família Ulma iriam batizar seu filho após o nascimento, assim como batizaram seus outros filhos.
Mas infelizmente, não puderam fazer o que queriam, pois antes de a criança nascer, eles se depararam com o martírio. “No que diz respeito ao batismo de sangue, podemos estar convencidos de que o filho mais novo dos Ulmas foi imerso nele”, acrescentou o padre Tadeuz, colocando esse evento na esteira do massacre dos Santos Inocentes, venerado pela tradição da Igreja.
Acolhimento motivado pelo Evangelho
A história da família Ulma representa a coragem de muitas famílias polonesas durante a Segunda Guerra Mundial.
Apesar de correrem risco de vida, elas ofereceram hospitalidade aos judeus em perigo, fossem eles conhecidos ou estranhos.
O acolhimento era muitos vezes motivado pelo desejo de cumprir as Leis do Evangelho. A Polônia é o país com o maior número de “Justos entre as Nações”.

A beatificação da família Ulma é um lembrete do compromisso que muitos católicos poloneses assumiram contra o totalitarismo de Hitler. A validação foi feita por João Paulo II, após a beatificação de 108 mártires poloneses da Segunda Guerra Mundial, em 13 de junho de 1999.
Conforme divulgado pela agência polonesa KAI, cerca de 20 mil fiéis, 700 padres e 60 bispos participaram da cerimônia de beatificação, ocorrida dia 10 de setembro na Polônia, no vilarejo onde a família Ulma viveu.
Fonte: Aleteia – A beatificação da família Ulma nos lembra do valor de toda vida.