Continuação do post: “A pregação que cativou as multidões” – conheça o poder das palavras de São Francisco de Assis (Parte I)
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As pregações de Francisco produziam de forma surpreendente as do próprio Cristo durante a sua vida mortal.
Seguido pelos discípulos, Jesus percorria os caminhos da Palestina, de aldeia em aldeia, de cidade em cidade.
Pregava em todos os lugares onde encontrasse almas para salvar.
Se se formava um pequeno grupo à volta d’Ele o divino Mestre expunha a sua doutrina de forma familiar e tocante.
Se O rodeavam as multidões desejosas de O escutar, a sua voz divina ressoava com mais vigor;
Adaptava-se ao auditório que O ouvia e deixava-se conduzir pelo sopro da sua eloquência.
Aos sábados usava da palavra nas sinagogas onde se reuniam os judeus fieis.
Os evangelhos ainda no-l’O mostram sob os pórticos do Templo, dirigindo-se aos inúmeros peregrinos, atraídos a Jerusalém pelas grandes solenidades do culto mosaico.
Os seus discursos, ora simples, ora vibrantes, penetravam tão fundo nos corações, que a multidão maravilhada O aclamava com entusiasmo.
Os guardas do Sinédrio resumiam com precisão a opinião popular, quando diziam aios príncipes dos sacerdotes, inimigos implacáveis do Salvador:
“Nunca um homem falou como Ele”.
Assim fazia Francisco.
Percorria as estradas da Úmbria, da Toscana, das Marcas, dos Estados Pontifícios.
Como o divino Mestre, falava aos ouvintes que lhe enviava a Providência.
Falava nos caminhos e nas praças públicas;
Tanto exortava os lavradores que encontrava pelos campos, como discursava às populações concentradas nas aldeias.
Com frequência, subia também aos púlpitos das igrejas.
Fez, por exemplo, uma importante pregação na catedral de Assis, pouco tempo depois da fundação da Ordem.
O êxito foi tal, que as populações vizinhas acorreram em multidão para o ouvir.
Os conterrâneos fizeram melhor: tocados pelas suas pregações, renunciaram às discórdias que os dividiam.
Francisco chegou mesmo a pregar em presença do Soberano Pontífice e do Sacro Colégio dos Cardeais.
Nesta venerável assembleia alcançou, como em muitos outros sítios, um verdadeiro triunfo.
Contudo, os seus discursos eram extremamente simples.
Tratava dos grandes assuntos que formam o eterno tema da pregação católica: naquele século de rivalidades trágicas e de guerras incessantes, exortava os ouvintes à concórdia e à paz.
Tal era o fundo habitual dos seus sermões.
Quanto à forma literária, não se preocupava com ela: a única preparação que lhe concedia era a
da oração.
Escreveu, é certo, com antecedência o discurso que devia pronunciar diante do Papa.
O Cardeal Hugolino, seu protetor, tinha-o aconselhado a fazer isso; chegou mesmo a ajudá-lo a redigir em latim uma magnífica alocução.
Esforço inútil. Quando o Santo começou a pregar, faltou-lhe a memória; começou a balbuciar e calou-se.
Sem se deixar desconcertar, abriu o breviário ao acaso.
Os seus olhos deram com um versículo da Sagrada Escritura que lhe chamou a atenção;
Tomou-o como base do seu discurso e entregou-o à própria inspiração.
Explicou as desgraças da Igreja e indicou os remédios com respeitosa ousadia.
Falou com tanto fogo, que arrancou lágrimas ao eminente auditório.
Poucas vezes algum pregador conheceu tamanhos sucessos.
As multidões acudiam para o ouvir; as almas convertiam-se e inflamavam-se com os seus ideais.
Darei só um exemplo: em Ascoli, após um dos seus sermões, trinta homens vestiram o burel dos Frades Menores.
Francisco, já o dissemos, desdenhava os artifícios da retórica; a sua eloquência nada tinha
de afetado.
De onde provinha, pois, o poder da sua palavra?
Temos de reconhecer que ele possuía os dons prestigiosos da oratória.
A sua voz melodiosa deleitava como se fosse música.
Os seus gestos, talvez excessivamente exuberantes, reforçavam os pensamentos.
A sua imaginação viva enriquecia o discurso com descrições poéticas e palavras pitorescas.
Mas a sua enorme força residia na alma. O fogo divino que o consumia interiormente abrasava-lhe as palavras.
O amor apaixonado por Cristo dava-lhe um tom de sinceridade singularmente impressionante e inspirava-lhe aqueles brados cujo tom não engana.
Antes de pregar, Francisco recolhia-se e deixava-se perder nas profundidades da oração: era esse o processo que empregava e que recomendava aos seus religiosos.
Para ele, como para os verdadeiros arautos do Evangelho, a pregação não era mais do que a chama que brotava da oração.
Enfim, Deus tinha-lhe concedido o dom dos milagres, que dava ao seu ministério uma prodigiosa autoridade.
Dava a vista aos cegos, levantava os paralíticos, curava os doentes.
Uma tarde de primavera, pregava ele numa praça pública de Alviano.
As andorinhas rodopiavam nos ares e em certos momentos os seus chilreios estridentes encobriam a voz do Santo.
Deu-lhes ordem para que se calassem; imediatamente as andorinhas passaram a guardar silêncio.
Logo que o discurso terminou, elas recomeçaram a gorjear com toda a alegria.
Como não haveriam de aceitar as multidões a autoridade de Francisco, se viam claramente nele um enviado extraordinário do Altíssimo?
(Continua…)
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Fonte: Livro “São Francisco de Assis” do Rev. Pe, Thomas de Saint-Laurent.
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